terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

EGITO - 3ª série



Localização: Nordeste da África (terras na África e na Ásia – Península do Sinai).

Ao norte é banhado pelo Mar Mediterrâneo, a leste pelo Mar Vermelho.

Fronteira com o Magreb e Israel ( com quem já enfrentou várias guerras)

Tem 80 milhões de habitantes (é o país mais povoado do mundo árabe)

E um dos mais pobres (40% da população vivem com menos de dois dólares por dia).

A população dobrou desde 1975, mas os recursos não seguiram essa alta.

O Egito possui 18,2 bilhões em reservas provadas de petróleo existindo a expectativa de comprovação para mais 2 bilhões segundo informações do Ministério do Petróleo revelando estes números a pequena influência do país neste setor da economia quando comparado, por exemplo, as reservas gigantescas da Líbia de 56 bilhões de barris.

A crise no país começou desde terça-feira (25/1), quando manifestantes e policiais entraram em choque, em confrontos que se tornam cada vez mais violentos.

O presidente do Egito, Hosni Mubarak demitiu todos os ministros, incluindo o primeiro-ministro egípcio, Ahmad Fuad Mohieddin. Mubarak, como presidente, era o chefe de Estado do Egito, enquanto Mohieddin era o chefe de governo. O primeiro-ministro e o gabinete de ministros são indicados pelo presidente, que pode desfazer o gabinete e convocar novos membros.

Os protestos, que se espalham pelo país, têm o objetivo de forçar a saída de Mubarak (82 anos) - no poder desde 1981. O governo decretou toque de recolher no país e colocou o Exército nas ruas da capital, Cairo, para garantir a ordem nas ruas. A rede britânica BBC disse que as manifestações aconteceram em ao menos nove cidades do país.

O grupo Irmandade Muçulmana (principal oposição – luta contra a influência ocidental e instauração da xariá, lei islâmica), declarou que a destituição dos ministros foi “apenas um passo” antes de aceitarem as reivindicações da oposição e do povo. O porta-voz do grupo, Walid Shalabi, disse à agência de notícias Efe que espera um “governo que tenha interesse em lançar as liberdades públicas, que resolva o problema do desemprego e que não trabalhe em benefício de um só grupo”.

O líder opositor e porta voz dos Democratas e pró-ocidentais e prêmio Nobel da Paz, Mohamed ElBaradei e ex-diretor geral da Agência Internacional de Energia Atômica), afirmou, por sua vez, em entrevista, que Mubarak “deveria ir embora”.

O presidente Mubarak não entendeu a mensagem do povo egípcio (...). Seu discurso foi totalmente decepcionante. Os protestos continuaram com ainda mais intensidade até que o regime de Mubarak caísse.

Ele voltava de Viena (capital da Áustria) e ía ao Cairo para participar da mobilização popular, quando foi detido. Segundo a Jazeera, ElBaradei estava em uma mesquita, e quando tentou sair dela foi impedido pela polícia. O diplomata egípcio é pró-Ocidente, tem apoio das classes mais altas e intelectualizadas e já anunciou sua disposição em assumir um eventual governo provisório, caso Mubarak seja derrubado. Esse é o grupo que engrossa as manifestações.

Já a Irmandade Muçulmana é um grupo fundamentalista islâmico, ligado ao Hamas palestino, e foi posto na clandestinidade por Mubarak, sob pressão do Ocidente. Eles defendem a adoção de leis religiosas no Egito, baseadas na sharia ou xariá (código islâmico, baseado no Corão).

Mubarak nunca, em sua administração, enfrentou tamanha onda de protestos. Os egípcios pediam sua saída e a implantação de uma democracia real, sem eleições fraudulentas, uma acusação que pesou sobre o governante egípcio.

Em setembro deste ano, o país deveria passar por eleições presidenciais e Mubarak era um possível candidato. Outro nome cogitado era o de seu filho, Gamal. Em seu apoio, Mubarak recebeu a declaração do rei a Arábia Saudita, Abdullah Bin Abdulaziz Al Saud.

Mesmo sendo um regime autoritário, o Egito é um dos principais aliados dos Estados Unidos e da Europa no mundo árabe. O principal temor do Ocidente é que a Irmandade Muçulmana possa assumir o governo do país.

Além da Jordânia, o Egito é o único país árabe a reconhecer o Estado de Israel. Qualquer mudança brusca no regime de Mubarak poderia tornar mais tensa a política já inflamada da região.

Não podemos desprezar o valor estratégico do controle de qualquer volume de reservas de petróleo, ocupando o Egito a condição de importante fornecedor para Israel país vital para o controle estadunidense no Oriente Médio e, por conseqüência, de sua segurança energética. O Egito, desde o acordo de paz assinado em 1979, tornou-se obrigado a fornecer petróleo para Israel existindo, dentre os motivos que levaram as últimas manifestações contra o ditador Mubarack, um assalariado dos EUA, a denúncia de condições vantajosas para o comprador nesta negociação.

O transporte de petróleo para a Europa também depende da estabilidade política do Egito possuindo este país o controle do Canal de Suez cujo fechamento poderia aumentar em 10 mil quilômetros a viagem dos petroleiros.  Imaginem as consequências do aumento no valor do transporte e consequente elevação dos preços dos combustíveis no velho continente atualmente mergulhado em profunda crise econômica.

Assim para o capital dos Estados Unidos e União Europeia a manutenção de um governo simpático torna-se imperativo desta forma as manifestações contra o ditador Hosnir Mubarack deveriam, na ótica destes interesses, resultar no máximo em substituição de nomes mantendo o modelo econômico.

Neste ponto, a manutenção do modelo econômico, encontraremos pronto o discurso ideológico liberal através de suas agências de classificação afirmando e provando através das estatísticas de sempre as “maravilhas” da desregulamentação da economia enquanto a população enfrenta uma forte alta nos alimentos, desemprego, baixos salários e cortes no orçamento. Como sabemos todos estes itens, somados a exigência de liberdade política, tornaram-se os causadores dos protestos populares.

Este sofrimento da população egípcia mostra-se em contraste com os indicadores econômicos apresentando o Egito com 6% de crescimento em 2010 levantando a empolgação do sistema financeiro internacional que passou a exigir a admissão do país africano no grupo conhecido por BRIC. Como parte desta manipulação o termo democracia passa a ser restrito a condição de realizações periódicas de eleições excluindo-se o debate em torno da evidente falência do modelo desregulamentador e suas exigências quanto da desnacionalização econômica. No Egito Hosnir Mubarack radicalizou o processo desregulamentador iniciado por Anuar Sadat enterrando o modelo nacionalista de Estado Empresário instituído por Gamal Nasser nos anos 50.    A figura de Nasser, de forma evidente, acrescenta uma tradição nacionalista e antiimperialista servindo de combustível para as reivindicações populares e nota-se, nas imagens dos protestos, a presença de muitas fotografias do líder nacionalista.  Todavia durante os trinta anos de ditadura o conceito de democracia ensinado nas escolas e difundido por muitas ONGs locais encontra-se influenciado pela doutrina do Project on Middle East Democracy (POMED) instituição financiada com recursos do governo dos Estados Unidos e no Egito predomina, do ponto de vista populacional, jovens nascidos depois da  morte de Nasser em 1970 desconhecendo, portanto, alternativas de modelos políticos e econômicos além do apresentado através dos ensinamentos importados dos EUA.
Neste quadro apresenta-se em vantagem a figura de Mohamed ElBaradei simbolizando o modelo de democracia, ou seja, um líder oposicionista moderado defensor de reformas pontuais no modelo econômico ( leia-se introduzir políticas sociais compensatórias) possuindo, principalmente, condições de garantir a segurança de Israel em natural associação aos interesses dos EUA principalmente nos assuntos relativos ao enfraquecimento do Irã.
Baradei, considerado moderno demais durante o governo Bush, encaixa-se perfeitamente na proposta do governo Obama para o norte da África e Oriente Médio podendo representar o “novo” considerando-se a sua posição quanto a invasão do Iraque negando-se a reconhecer a existência de armas de destruição em massa preocupado, atualmente, em encontrar os meios para desmontar o projeto nuclear do Irã. Quanto ao petróleo Baradei busca os meios de criar uma agência internacional de regulação energética fazendo coro aos defensores da governança mundial via interesses dos oligopólios.

O Egito decretou o toque de recolher e bloqueou a internet e o serviço de telefonia móvel e deteve membros da oposição, em medidas extremas para tentar conter manifestação convocada para pedir a queda do presidente Hosni Mubarak, há 30 anos no poder.
Os recentes distúrbios no Egito podem fortalecer o grupo militante islâmico Hamas em sua disputa com a Autoridade Nacional Palestina (ANP), apoiada pelos Estados Unidos, especialmente se a Irmandade Muçulmana ganhar influência como parte do futuro governo no Cairo.

O presidente Mubarak, foi um protetor do presidente da ANP, Mahmoud Abbas. Ele ajudou a mediar negociações com Israel, além de atuar como importante aliado contra o Hamas desde que o grupo tomou o controle da Faixa de Gaza, há três anos.

Se a onda de protestos contra Mubarak acabar fortalecendo a Irmandade Muçulmana, alguns analistas preveem que isso criaria uma mudança significativa do poder em favor do Hamas, possivelmente consolidando seu controle em Gaza e ajudando-o a ganhar mais apoio na Cisjordânia.

Membro do partido secular Fatah, Abbas telefonou para o líder egípcio para demonstrar seu apoio à "estabilidade e segurança" no Egito. O líder da ANP tem seguido a política de Mubarak de cooperar com os EUA e com Israel. Em outra mostra de lealdade, a polícia da Autoridade Palestina dispersou no domingo um pequeno grupo de manifestantes na entrada da embaixada egípcia em Ramallah.

Um novo governo no Cairo menos alinhado com os EUA poderia enfraquecer Abbas, expondo-o à pressão de adversários árabes como a Síria, que critica os palestinos por sua prontidão em negociar com Israel. O Hamas, que tem entre seus fundadores um membro da Irmandade Muçulmana, rejeita as negociações com Israel e se recusa a abandonar os ataques terroristas.

Temeroso com a presença do Hamas em Gaza, perto de seu território, o Egito cooperou com Israel para tentar limitar o contrabando de armas, restringindo o tráfego civil no terminal fronteiriço de Rafah. "Os egípcios sempre se posicionaram como partidários da Autoridade Palestina", disse um funcionário do escritório de Abbas, pedindo anonimato. "Isso mudará toda a fórmula para a região, se a Irmandade Muçulmana prevalecer no Egito".

Funcionários do Hamas disseram pouco sobre os distúrbios no Egito, tomando cuidado para não parecer excessivamente a favor da Irmandade Muçulmana. "Nós estamos de acordo com a escolha do povo egípcio. Isso não significa que estejamos pressionando a favor da Irmandade Muçulmana", afirmou Huda Qirnawi, um parlamentar do Hamas em Gaza. "Nós apoiamos os movimentos do povo contra as ditaduras na região, mas não encorajamos o caos".

O presidente do Egito renunciou e o presidente da Palestina Abbas também renunciou.

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