sábado, 12 de março de 2011

O que é mesmo terrorismo? (Paulo Fagundes Vizentini) - Millenium

O terrorismo é um fenômeno que é recorrente na história. Ele reaparece em épocas de crise, em épocas de certa assimetria de poder: um lado não tem como lutar de forma convencional, recorre a esse tipo de luta diferente.
Eu diria que essa onda atual é sintoma de duas coisas: primeira, uma herança da época de Reagan, principalmente. O então presidente americano Reagan, para combater os soviéticos no Afeganistão estimulou organizações islâmicas e outros. O próprio Bin Laden é um homem que trabalhou para os EUA, na década de 80. Para combater todas as tendências de esquerda, as revoluções, as modernizações, e manter aqueles países no atraso, os americanos estimularam estes grupos.
De certa forma, estes grupos perdem um pouco a razão de ser, porque depois do fim da guerra fria, eles não tinham mais utilidade e os EUA os abandonara. Como só sabiam fazer isso, eles se voltaram contra o Ocidente.

A serviço de quem?

Não quero dizer também que esses grupos eram tão autônomos assim. Se você vê lógica desses atentados que ocorrem, eles justificam as ações americanas. Até hoje a gente não tem quase nenhuma evidência sobre o atentado de 11 de setembro. Nenhum dos dirigentes foi capturado, nós não temos prova absolutamente de nada. Portanto, tudo isto é uma esfera misteriosa e o terrorismo tem sido um instrumento muito útil para criar uma agenda militarista intervencionista no mundo, sem que a gente saiba exatamente quem faz estes atentados. É evidente que quando eu quando falo quem faz, eu não quero dizer quem puxou o gatilho. Quem puxa o gatilho é um pobre coitado que nem sabe direito o que está fazendo. O que nos interessa saber é quem é o cérebro que está por trás.
O terrorismo sempre é um meio, ele nunca é um fim. Porque você não pode criar um mundo baseado no terrorismo. É evidente que existem pequenos grupos de fanáticos, que acham que podem submeter o Ocidente através do terrorismo. Mas terrorismo certamente é um pouco o resultado de um a impotência. Agora, esse é um mundo desconhecido, é como o mundo da espionagem, a gente não sabe quem é quem.
É estranho, nesses atentados que ocorreram na Chechênia e na Arábia Saudita, que são atentados que ocorreram em dois países que se opuseram à guerra, e mais ainda, são atentados que ocorreram depois da guerra. Se a Al Qaeda queria mostrar força e provocar dano, ela teria feito esses atentados durante a guerra. Por que esses atentados são feitos depois da guerra, quando os EUA querem reestruturar suas relações com esses países que não os apoiaram e justamente nos países que não os apoiaram?

Revolução conservadora

Além dessa agenda de reafirmação mundial do poder americano, eu acho que há um problema silencioso que nós não conhecemos. Quando a gente fala com um dos norte-americanos democráticos, pessoas progressistas, a gente se dá conta disto. Os conservadores ocuparam vários ministérios nos EUA. Eles estão colocando juízes ultra-conservadores nos seus postos de mando, na Suprema Corte; eles estão cerceando liberdades, que eram constitucionais. Durante algumas décadas, se tentou elevar a qualidade de vida da população negra, o movimento dos direitos civis, etc. Agora, os EUA estão dando para trás. E a população está até desencantada com tudo e está com medo, e ela aceita, esse governo. O que o governo disser que é necessário fazer para garantir a segurança, a população vai aceitar.
Uma pesquisa de uma instituição de opinião dos EUA fez um levantamento estarrecedor: 40% dos americanos não sabem dizer onde fica o Canadá. Portanto, dizer que o Iraque está envolvido nisto ou naquilo, colou na maioria da população. Eu acho que está havendo uma revolução conservadora dentro dos EUA. Espero que haja uma reação da população americana a esta visão obscurantista do mundo, que vai inclusive prejudicar o seu modo de vida. Agora, qualquer atentado vai dar nova arma para o Bush fazer o que ele quer.


Questões para debate

1. Por que tanto mistério em torno do terrorismo?

2. O terrorismo justifica-se por se mesmo? Explique sua resposta.

3. Quais os efeitos para o mundo da “revolução conservadora” do governo Bush?

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