sábado, 21 de fevereiro de 2015

A Geografia como Ciência da Sociedade


            Como a geografia objetiva o estudo da sociedade? Ou seja, qual é a objetivação da geografia que, sem deixar de ser uma ciência social, distingue-se da história, antropologia, economia e sociologia, todas elas também ciências sociais?
            O longo processo de organização e reorganização da sociedade deu-se concomitantemente à transformação da natureza primitiva em campos, cidades, estradas de ferro, minas, voçorocas, parques nacionais, shopping centers, etc. Estas obras do homem são as suas marcas apresentando um determinado padrão de localização que é próprio a cada sociedade. Organizadas espacialmente, constituem o espaço do homem, a organização espacial da sociedade ou, simplesmente, o espaço geográfico. A objetivação do estudo da sociedade pela geografia faz-se através de sua organização espacial, enquanto as outras ciências sociais concretas estudam-na através de outras objetivações. A geografia estuda o espaço, constituído pelas formas naturais e pelas que foram criadas pelo trabalho humano, em conjunto com as relações que ocorrem na vida em sociedade. O espaço é analisado levando em conta os lugares, as regiões, os territórios e as paisagens. As relações sociais, econômicas e culturais explicam a sua dinâmica, o seu constante processo de transformação.
             
            A humanidade sempre questionou e tentou entender o que acontecia a sua volta.
            No período do nomadismo as populações pré-históricas percorreram grandes distâncias e passavam por lugares onde as estações do ano, a vegetação e os rios eram muito diferentes, o que permitiu um maior conhecimento da superfície do planeta.
            Na Antiguidade, povos como os fenícios, assírios e egípcios, eram comerciantes e navegadores. Em busca de novos territórios e mercados, o conhecimento dos fenômenos naturais e o domínio de rotas terrestres e marítimas eram necessários.
            No Egito começou a prática de medição de terras e na Grécia foi calculada com relativa precisão para a época a circunferência da Terra, dividida em meridianos. Chegaram à conclusão que a Terra é redonda. Hiparco (a.C.) criou o sistema de coordenadas geográficas. Ptolomeu propôs o Sistema Geocêntrico, em que a Terra seria o centro do Universo e o Sol, os planetas e as estrelas girariam ao seu redor. Após 1500 anos, Copérnico elaborou a Teoria Heliocêntrica contradizendo Ptolomeu. A obra de Ptolomeu, “A Geografia”, constituída como primeiro Atlas, pois mapeava o mundo, fornecia a latitude e a longitude de lugares importantes.
            Os romanos aproveitaram os conhecimentos gregos e com a decadência do Império Romano, foram os árabes que herdaram a Geografia grega.
            Durante a Idade Média, as respostas para os questionamentos a respeito do mundo passaram a ser fornecidas pela religião. A Geografia perdeu força e quase desapareceu do mundo ocidental nesse período.
            Durante o século XIII os europeus conheciam o norte da África e o Oriente Médio. E os islâmicos desde o século VII dominavam parte da Ásia, da África e da Europa.
            No final da Idade Média, o comércio antes restrito ao interior dos feudos começou a ser reativado e se expandiu. As cidades também cresciam. As cruzadas, que tinham como objetivos a expulsão dos muçulmanos da Palestina, contribuíram para a expansão européia em direção ao Oriente e para um maior conhecimento asiático.
            Nos séculos XV e XVI, época das Grandes Navegações e explorações, melhoramento de embarcações e instrumentos de navegação como a bússola, o astrolábio e a confecção de mapas permitiram alargamento do horizonte geográfico. Vale lembrar de Bartolomeu Dias, Vasco da Gama, Cristóvão Colombo e Fernão de Magalhães.
            Os relatos dos viajantes descrevendo clima, vegetação relevo povos tinham um caráter descritivo. Por esse motivo até o final do século XVIII não se pode falar em Geografia como uma ciência.
            A partir do século XVI, com a formação das novas colônias e com o impulso do comércio colonial, os países europeus passaram a substituir as expedições exploradoras por expedições que descobriam os recursos naturais. No século XVIII terras desconhecidas foram visitadas, tais como a Oceania e norte da Ásia. Estudiosos começaram a buscar a relação entre a humanidade e o meio ambiente.
            No século XIX praticamente todas as regiões do mundo já eram conhecidas.
            A Geografia começou a se estruturar como ciência na Alemanha, com Humboldt e Ritter. E a Geografia passou a explicar fenômenos tornando-se uma ciência. No século XIX, é reconhecida.
            Augusto Comte desenvolve o positivismo que afirma que a ciência deveria deixar de especular sobre a origem dos fenômenos e se apoiar apenas na observação, na experimentação e na comparação de resultados. Com o positivismo, a descrição, a enumeração e a classificação dos fatos novamente assumem um papel importante, influenciando a chamada Geografia Tradicional. A Humanidade na época é apenas um elemento da paisagem e as relações sociais são pouco valorizadas.
            A partir de observações das espécies, de suas mudanças e variações, Lamarck e Darwin elaboraram a Teoria Evolucionista.
            Recebendo forte influência do Positivismo e da teoria evolucionista de Darwin, desenvolveu-se na Alemanha, com Ratzel, o determinismo geográfico, que sustentava que as condições ambientais, em especial o clima, são capazes de influenciar o desenvolvimento intelectual e cultural das pessoas. Esta teoria afirmava que nas áreas temperadas à humanidade teria um desenvolvimento mais elevado do que nas áreas tropicais, quentes e úmidas.
            A Teoria Determinista tentava explicar e justificar os deslocamentos e as conquistas dos povos. Afirmava que os grupos humanos, ao crescer, tendem a alargar os seus territórios, ocupando territórios vizinhos. Reforçou uma idéia – já comum nos países conquistadores – de supremacia racial que entende que um povo ou uma determinada etnia é superior à outra e influenciou a expansão nazista alemã.


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