quarta-feira, 23 de março de 2011

Guerra dos Seis Dias e Guerra do Yom Kippur - 3º ano (Millenium)

Guerra dos Seis Dias (1967)



Depois de colocar em prática sua política nacionalista, Nasser inicia a promoção do pan-arabismo. Forma com a Síria (também aliada econômico-militar da URSS) e com a Jordânia, uma frente de luta contra o inimigo comum dos árabes: Israel.
Porém, diante da descoberta israelense das pretensões de Nasser, Israel promove um ataque aéreo surpreendente na manhã de 5 de junho de 1967. Acaba com todos os aviões e deixa os árabes completamente sem força aérea.
Com uma enorme vantagem militar, seis dias foram o suficiente para Israel ocupar do Egito, o Sinai e a Faixa de Gaza (aprovada pela ONU, em 1947, como parte do território Palestino, era controlada pelo Egito desde o fim da guerra de 1948/49); da Síria, ocupa as Colinas de Gola e da Jordânia, a Cisjordânia (também parte do território palestino votado pela ONU, mas ocupado pela Jordânia na Guerra de Independência de 1948/49). Com a ocupação da margem ocidental do Rio Jordão, Israel também fica com o lado leste (árabe) de Jerusalém, e transfere para a cidade, toda a administração do país.
Após a enorme derrota, o líder árabe, Gamal Abdel Nasser, anuncia a sua renúncia e se reconhece como o único culpado pela humilhante derrota de seu povo. Com esse golpe publicitário, Nasser permaneceu no poder até sua morte, três anos depois.

Guerra do Yom Kippur (1973)

Com a morte de Nasser, em 1970, Anuar Sadat, seu vice-presidente, sobe ao poder. Oficialmente, sua política continua nacionalista e, pretensamente pan-arabista, apesar de não mais contar com o apoio jordaniano (com a derrota na Guerra dos Seis Dias, o Rei Hussein, da Jordânia, rompe com o Egito, e passa a adotar uma prática que, em muitas vezes, agrava Israel). Porém, o nasserismo, de fato, é substituído por uma política de rearmamento dos árabes, que visa à recuperação dos territórios ocupados, em 1967.
Em 1972, na procura de regionalizar o conflito árabe-israelense, Sadat expulsa os conselheiros militares soviéticos do Cairo (capital). No ano seguinte, no dia do feriado religioso mais importante do povo judeu, o Yom Kippur (Dia do Perdão), Egito e Síria atacam Israel de surpresa (respondendo à surpresa da guerra anterior).
A Síria, ao norte, ocupa as Colinas de Gola, enquanto o Egito consegue o controle de toda a faixa do canal. Mas, com o contra-ataque de Israel, bombardeando Damasco (capital da Síria), os sírios são obrigados a recuar. No Sinai, os israelenses cruzaram o canal e cortaram o fornecimento de comida e munição para os egípcios.
Quando, mais uma vez, a superioridade militar de Israel pretende promover um massacre árabe, EUA e URSS intervêm e exigem o final da guerra. Praticamente, nada muda territorialmente com o final da guerra. A sua grande conseqüência, já anunciada em 1972, com a expulsão dos conselheiros militares soviéticos do Egito, é a aproximação de Sadat e os EUA - portanto, aproximação também do aliado norte-americano, Israel.
Com essa aproximação, o Egito perdeu a única coisa que teve efetivamente, a liderança do mundo árabe, calcada na oposição a Israel.
Em 1975, o Egito consegue a abertura do Canal de Suez fechado desde a Guerra dos Seis Dias (1967). Em 1979, é concluído o Tratado de Camp David (EUA), entre Egito (representado pelo seu presidente Anuar Sadat) e Israel (representado pelo seu primeiro-ministro, Menahem Begin). Mediado pelo então presidente norte-americano, Jimmy Carter, o acordo devolveu ao Egito o Sinai (mas não a faixa de Gaza).
Os grandes vitoriosos do acordo foram os EUA, que consolidaram a conquista de mais uma área de influência (até 1972, parceira da URSS), e Israel, que neutralizou o Egito e trocou “paz por terra”. O maior derrotado, apesar da reconquista da terra, foi o Egito. O Sinai sempre foi egípcio, e sua conquista por Israel, em 1967, só foi implementada para que a região pudesse ser barganhada, mais tarde, em troca de alguma coisa. No caso, paz. Nunca mais, depois desse acordo, o mundo assistiu a outra guerra árabe-israelense (a Guerra do Golfo, em 1991 - que mais adiante estudaremos -, não foi árabe-israelense, apesar das tentativas de Sadam Hussein), assim como também, nunca mais apareceu uma real liderança árabe. A Faixa de Gaza, porém, faz parte da Palestina histórica (da “Terra Prometida” do povo hebreu - origem étnica dos judeus). Logo depois da conquista (1967), começa a ser colonizada por judeus, assim como a Cisjordânia, o que demonstra a não pretensão israelense em devolvê-las. As Colinas de Gola, território pertencente à Síria, até 1967, não têm, também, importância histórica para Israel, apenas importância estratégica. Lá do alto, é possível controlar a capital síria de Damasco, e existe um míssil apontado para ela.
Após o acordo de Camp David, o Egito passa a ser acusado, pelos árabes, de grande traidor do seu povo - principalmente pela Síria e pela Jordânia, que não foram convidadas a sentar-se à mesa e negociar os territórios perdidos na mesma guerra em que o Eito perdeu o Sinai. Em 1981, Anuar Sadat é assassinado por um fundamentalista egípcio.

segunda-feira, 14 de março de 2011

Guerra do Canal de Suez (1956) - 3º ano (Millenium)

Em 1953, o General Gamal Abdel Nasser sobe ao poder no Egito e apresenta seu projeto unificador do povo árabe (pan-arabismo) e sua política nacionalista.
Mesmo que, sublinearmente, o pan-arabismo ratificava a oposição árabe ao Estado de Israel - sob a liderança de Nasser, os árabes enxergam a união contra o inimigo comum de seu povo. Em tempos de guerra fria, com Israel pertencente a área de influência dos EUA, Nasser, inimigo de Israel e, portanto, também dos EUA, inaugura um período de cooperação militar entre o Egito e a URSS.
Colocando em prática seu projeto nacionalista, o presidente do Egito anuncia, em 1956, a nacionalização da Companhia Universal do Canal de Suez, que une o Mar Vermelho ao Mar Mediterrâneo (rota tradicional do petróleo), cujos controladores são França e Inglaterra (potências decadentes na Guerra Fria).
A atitude nasserista provocou a organização clandestina de uma ação anglo-francesa e israelense - Israel pretende uma ação militar que enfraqueça o Egito e previna uma política opositora mais direta.
A estratégia dos três países contra o Egito prevê um ataque inicial de Israel no Sinai (território egípcio) combinado com um ultimato anglo-francês, que exige a retirada das tropas israelenses das terras do Egito, ou seja, ingleses e franceses ameaçam Israel de invadir o Egito, seu inimigo.
Dia 29 de outubro os israelenses invadem o Sinai, dia 30, chega o ultimato anglo-francês, seguido de um bombardeio, no dia seguinte, contra Port Said (entrada do Canal ) e contra o Cairo.
A vitória militar anglo-franco-israelense, porém, transforma-se em derrota diplomática. Em 4 de novembro, a aliada do Egito, URSS, envia mensagens aos ingleses, franceses e israelenses, ameaçando, sutilmente, disparar mísseis estratégicos sobre Londres e Paris, caso a humilhação aos árabes continuasse. Mais que depressa, as antigas potências colonialistas pedem a ajuda norte-americana. Os EUA exigem da Inglaterra a retirada das tropas do canal. França e Inglaterra suspendem as ofensivas e se retiram. Nasser nacionaliza o Canal de Suez e se transforma no maior líder do Terceiro Mundo e no único líder árabe, até os nossos dias.

sábado, 12 de março de 2011

O que é mesmo terrorismo? (Paulo Fagundes Vizentini) - Millenium

O terrorismo é um fenômeno que é recorrente na história. Ele reaparece em épocas de crise, em épocas de certa assimetria de poder: um lado não tem como lutar de forma convencional, recorre a esse tipo de luta diferente.
Eu diria que essa onda atual é sintoma de duas coisas: primeira, uma herança da época de Reagan, principalmente. O então presidente americano Reagan, para combater os soviéticos no Afeganistão estimulou organizações islâmicas e outros. O próprio Bin Laden é um homem que trabalhou para os EUA, na década de 80. Para combater todas as tendências de esquerda, as revoluções, as modernizações, e manter aqueles países no atraso, os americanos estimularam estes grupos.
De certa forma, estes grupos perdem um pouco a razão de ser, porque depois do fim da guerra fria, eles não tinham mais utilidade e os EUA os abandonara. Como só sabiam fazer isso, eles se voltaram contra o Ocidente.

A serviço de quem?

Não quero dizer também que esses grupos eram tão autônomos assim. Se você vê lógica desses atentados que ocorrem, eles justificam as ações americanas. Até hoje a gente não tem quase nenhuma evidência sobre o atentado de 11 de setembro. Nenhum dos dirigentes foi capturado, nós não temos prova absolutamente de nada. Portanto, tudo isto é uma esfera misteriosa e o terrorismo tem sido um instrumento muito útil para criar uma agenda militarista intervencionista no mundo, sem que a gente saiba exatamente quem faz estes atentados. É evidente que quando eu quando falo quem faz, eu não quero dizer quem puxou o gatilho. Quem puxa o gatilho é um pobre coitado que nem sabe direito o que está fazendo. O que nos interessa saber é quem é o cérebro que está por trás.
O terrorismo sempre é um meio, ele nunca é um fim. Porque você não pode criar um mundo baseado no terrorismo. É evidente que existem pequenos grupos de fanáticos, que acham que podem submeter o Ocidente através do terrorismo. Mas terrorismo certamente é um pouco o resultado de um a impotência. Agora, esse é um mundo desconhecido, é como o mundo da espionagem, a gente não sabe quem é quem.
É estranho, nesses atentados que ocorreram na Chechênia e na Arábia Saudita, que são atentados que ocorreram em dois países que se opuseram à guerra, e mais ainda, são atentados que ocorreram depois da guerra. Se a Al Qaeda queria mostrar força e provocar dano, ela teria feito esses atentados durante a guerra. Por que esses atentados são feitos depois da guerra, quando os EUA querem reestruturar suas relações com esses países que não os apoiaram e justamente nos países que não os apoiaram?

Revolução conservadora

Além dessa agenda de reafirmação mundial do poder americano, eu acho que há um problema silencioso que nós não conhecemos. Quando a gente fala com um dos norte-americanos democráticos, pessoas progressistas, a gente se dá conta disto. Os conservadores ocuparam vários ministérios nos EUA. Eles estão colocando juízes ultra-conservadores nos seus postos de mando, na Suprema Corte; eles estão cerceando liberdades, que eram constitucionais. Durante algumas décadas, se tentou elevar a qualidade de vida da população negra, o movimento dos direitos civis, etc. Agora, os EUA estão dando para trás. E a população está até desencantada com tudo e está com medo, e ela aceita, esse governo. O que o governo disser que é necessário fazer para garantir a segurança, a população vai aceitar.
Uma pesquisa de uma instituição de opinião dos EUA fez um levantamento estarrecedor: 40% dos americanos não sabem dizer onde fica o Canadá. Portanto, dizer que o Iraque está envolvido nisto ou naquilo, colou na maioria da população. Eu acho que está havendo uma revolução conservadora dentro dos EUA. Espero que haja uma reação da população americana a esta visão obscurantista do mundo, que vai inclusive prejudicar o seu modo de vida. Agora, qualquer atentado vai dar nova arma para o Bush fazer o que ele quer.


Questões para debate

1. Por que tanto mistério em torno do terrorismo?

2. O terrorismo justifica-se por se mesmo? Explique sua resposta.

3. Quais os efeitos para o mundo da “revolução conservadora” do governo Bush?