terça-feira, 4 de maio de 2010

O RACISMO NA EUROPA OCIDENTAL -8º e 9º Ano ; 2ª Série

Toda migração gera conflitos. O interesse próprio e a xenofobia são uma constante na humanidade, mais antigos que todas as sociedades conhecidas. Tomemos como exemplo dois passageiros numa cabine de trem. Eles se apossam das mesinhas, cabides e bagageiros, ocupam os assentos vazios e se instalam à vontade. Mas a porta se abre e surgem dois novos passageiros. Aqueles dois primeiros, mesmo que não se conheçam, comportam-se com uma solidariedade notável: há uma nítida relutância em desocuparem os demais assentos e deixarem os recém-chegados também se acomodarem. A cabine do trem tornou-se território seu, para disporem dele a seu bel-prazer, e cada novo passageiro que entra é considerado um intruso.
Na prática, essa situação nunca chega ao conflito aberto, pois os passageiros estão sujeitos a um sistema de regras. Mas até mesmo os dois últimos passageiros, que conheceram certa dificuldade de acomodação, no caso de chegarem mais dois posteriormente, vão adotar a mesma atitude preconceituosa dos primeiros.
Hoje em dia estima-se que vivam na Europa ocidental mais de 20 milhões de imigrantes. Muitos europeus acreditam que suas vidas estão ameaçadas. “Os alemães (ou franceses, suecos, italianos) estão se extinguindo”, ouve-se. Sabidamente os imigrantes mais bem qualificados encontram menos barreiras. O astrofísico indiano, o famoso arquiteto chinês, o negro africano ganhador do prêmio Nobel são todos bem-vindos a qualquer lugar do mundo. Afinal, os ricos jamais são mencionados nesse contexto; ninguém questiona sua liberdade de movimento. Para um empresário de Hong Kong, adquirir um passaporte britânico não constitui um problema. A cidadania suíça também é, para imigrantes de qualquer origem, apenas uma questão de preço. Os estrangeiros são mais estrangeiros quando são pobres.
A Alemanha é um país que deve sua população atual a gigantescos movimentos migratórios. Desde os tempos remotos tem havido uma troca constante de grupos populacionais, pelas mais diversas razões. Os alemães, assim como os austríacos e outros, são uns povos bastante diversificados. O fato de as ideologias raciais ganharem credibilidade justamente ali pode ser visto como uma espécie de compensação para amparar uma identidade nacional particularmente frágil. A idéia de “raça ariana” ou alemã nunca passou de uma construção risível. É espantoso que uma população assim possa ser vítima do atual pavor – e racismo – diante do imigrante. É como se os alemães tivessem a mesma atitude mencionada no exemplo da cabine do trem. Eles são na verdade os recém-chegados que, tendo já garantido seu próprio assento, insistem em desfrutar dos pretensos direitos daqueles que sempre estiveram lá e se incomodam com a vinda de novos recém-chegados.
A xenofobia, a aversão pelo estrangeiro, evidentemente não é um problema exclusivamente alemão. Por toda a Europa, e até no Japão, assiste-se à multiplicação de grupos racistas. A questão básica é: Quantos imigrantes um país é capaz de acolher? Na realidade, os conflitos inevitáveis que emergem com a migração em grande escala intensificam-se quando existe desemprego em massa.
Em épocas de pleno emprego, que provavelmente nunca mais retornarão, milhões de trabalhadores estrangeiros foram recrutados. Dez milhões de imigrantes foram do México para os Estados Unidos, 3 milhões da África do Norte para a rança, 5 milhões para a Alemanha, incluindo aqui cerca de 2 milhões de turcos... Nesse momento, a imigração não foi apenas tolerada, mas incentivada.
Essa atitude mudou quando aumentou o desemprego. Por longo tempo os recém-chegados mostraram-se ávidos por adaptar-se. Eles aceitaram as normas escritas e os costumes da sociedade que os acolheu, mesmo continuando em parte aferrados às suas tradições culturais e religiosas. Hoje em dia essa atitude está mudando.
A pobreza e a discriminação induzem cada vez mais os imigrantes, legais ou clandestinos, a insistirem na sua “identidade”. Porta-vozes ativistas fazem reivindicações de separatismo. Por vezes as palavras de ordem do grupo recaem nas idéias de uma “nação negra”, uma “nação islâmica” e assim por diante. Mesmo que a disposição dos imigrantes para a integração esteja diminuindo, não são eles os provocadores, mas, ao contrário, são os chamados nativos. Se ao menos os “nativos” fossem somente os skinheads ou os neonazistas! Mas essas gangues representam unicamente a parcela violenta que se arrogou o posto de vanguarda da xenofobia. A meta da integração ainda não foi aceita por boa parte da população européia.
Para eliminar as causas das migrações internacionais seria necessário reduzir drasticamente as diferenças entre os países ricos e os pobres. Mas isso parece estar além das possibilidades atuais. Outra questão é preservar as condições mínimas para uma verdadeira civilização democrática: que toda pessoa possa escrever ou dizer em voz alta o que pensa do governo, do país ou de Deus, sem ser presa nem ameaçada de morte; que as desavenças sejam resolvidas no tribunal e não com uma rixa entre grupos; que as mulheres possam movimentar-se livremente e não sejam obrigadas a vender-se ou ser circuncidadas; que toda pessoa possa atravessar a rua sem ser metralhada no tiroteio de uma soldadesca turbulenta. Na história da humanidade, essas condições mínimas foram apenas excepcionalmente e em caráter temporário alcançadas. Todos aqueles que desejam preserva-las de ameaças externas se defrontam com um dilema: quanto mais ferozmente uma sociedade se defende e ergue barreiras à sua volta, menos, no final, sobra para defender. E, quanto aos bárbaros, não precisamos esperá-los nos portões. Eles sempre já estão entre nós.

Questões:

1. O que é xenofobia?

2. O que o autor quis dizer com sua frase final: “Quanto aos bárbaros, não precisamos esperá-los nos portões. Eles sempre já estão entre nós”?
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