sexta-feira, 2 de julho de 2010

O futebol na ditadura brasileira -

Em 1970, o Brasil ainda vivia sob a ditadura do regime militar, instaurado em 1964. O presidente era o general Emílio Garrastazu Médici, que governou o país de 1969 a 1974. Médici era da "linha dura", a ala mais radical dos militares que instauraram a ditadura. Seu governo foi, talvez, o mais repressivo da história política do Brasil, resultando na morte e tortura de centenas de oposicionistas, acusados ou suspeitos de "subversão".

Foi também um período em que parte da oposição decidiu partir para a luta armada, praticando atos de terrorismo, seqüestros de diplomatas estrangeiros para trocá-los por prisioneiros políticos e assaltos a banco, chamados eufemisticamente de "expropriações".
Milagre brasileiro

Apesar da repressão política, a economia brasileira crescia mais de 10% ao ano. Não que o crescimento da economia fosse obra do governo. Como foi um período de crescimento da economia mundial, a economia brasileira acabou se beneficiando. Houve um aumento dos empréstimos obtidos no exterior e dos investimentos estrangeiros no país. As exportações aumentaram, especialmente as de produtos agrícolas, como soja e laranja.

Naquela época, crescimento da economia significava também aumento da oferta de empregos na indústria. Foi uma época em que a classe média realizava seus sonhos comprando carros e eletrodomésticos. Foi nesse contexto político e econômico que a seleção brasileira conquistou a Copa do Mundo no México e o Brasil se tornou o primeiro país tricampeão.

Futebol e propaganda política

Além da tortura e da repressão, o governo Médici usou a propaganda como arma política. O presidente Médici era apresentado como um "homem do povo" e "apaixonado por futebol". A vitória da seleção brasileira sobre a seleção italiana por 4 a 1, na final, foi bastante explorada pela propaganda do governo Médici em slogans do tipo "Ninguém segura este país" ou "Brasil; ame-o ou deixe-o".

O técnico que classificou o Brasil para a Copa de 1970 foi João Saldanha, que acabou substituído por Mario Zagalo durante a competição. Alguns acreditam que a substituição de Saldanha por Zagalo teria sido resultado de uma suposta interferência de Médici. O então presidente da República teria dado palpite na escalação do time feita por Saldanha. O técnico teria respondido que Médici mandava nos ministérios, mas que quem mandava na seleção era ele (Saldanha).

Futebol: o ópio do povo

Temendo que a vitória da seleção na Copa do Mundo fosse explorada pela propaganda do regime militar, o que acabou acontecendo, alguns intelectuais de esquerda, opositores do Regime, afirmavam que o futebol era o "ópio do povo", pois faria a população se alienar, deixando de lutar pela solução dos problemas sociais. A expressão foi criada por Karl Marx. Era como ele considerava a religião.
Porém, em 1974, a seleção brasileira decepcionou os torcedores, ao não conseguir repetir a conquista da Copa anterior. E o regime militar brasileiro também não conseguiu manter sua popularidade. Naquele ano, o aumento do preço do petróleo imposto pela OPEP (Organização dos Países Exportadores de Petróleo) gerou uma crise econômica mundial que levou ao fim do chamado "milagre econômico". A inflação disparou no Brasil e os brasileiros sofreram com o aumento dos preços e o arrocho salarial.

Túlio Vilela*

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