segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

A PRODUÇÃO DA ESCALA GEOGRÁFICA - 1ª série (Millenium)

O britânico Neil Smith é um dos geógrafos que vêm elaborando uma teoria a respeito da escala geográfica. Segundo sua teoria, a escala geográfica é aquela que demarca as fronteiras das disputas sociais e dos espaços controlados ou contestados por grupos sociais. Cabe a Geografia a compreensão das articulações entre as escalas produzidas socialmente, identificando os grupos que exercem o controle e a mobilidade entre diferentes escalas.
O contraste entre os ricos e os pobres é enorme nas cidades brasileiras, mas o processo de exclusão que resultou dessa desigualdade social está provocando reações nos jovens que vivem nas áreas mais carentes.
Um dos tipos de reação é um movimento chamado de manguebeat, originado no Recife (PE). Disputando um lugar de maior visibilidade, esse movimento cultural tem demonstrado força capaz de produzir escalas geográficas, conectadas entre si.

Vejamos quais são elas.

Recife cresceu desordenadamente, à custa do aterramento indiscriminado dos manguezais da planície costeira em que a cidade foi fundada. As áreas de mangue que resistiram à destruição foram em grande parte ocupadas por barracos palafitas, formando imensas favelas.
Se os manguezais nunca haviam sido respeitados imagine o preconceito que se formou quando estas áreas se transformaram em local de moradia da população de baixa renda.
Porém, por meio da música de protesto do manguebeat, os jovens dessas áreas começaram a reverter a imagem negativa dos seus bairros, valorizando sua maneira original de olhar o mundo e de se apresentar a ele.
Segundo os mangueboys e as manguegirls, viver no mangue não é para qualquer um.
Somente os “caranguejos com cérebros”, conforme eles próprios se denominam, são capazes de ficar “conectados” no mundo, com a antena parabólica enterrada na lama.
Nesse nível mais elementar, o próprio corpo e a maneira de vestir e de falar desses jovens demarcam uma fronteira espacial da diferença entre eles e os outros. Ao delimitar suas diferenças em relação ao restante da cidade, os moradores do mangue estão gerando outro nível escalar, que é o de uma comunidade que agrupa indivíduos, inclusive de bairros distantes, ligados por características políticas, econômicas ou culturais comuns.
No caso do movimento cultural manguebeat, os jovens do Recife criaram a sua própria escala do corpo, da comunidade, do espaço urbano e da nação. Ao chamara atenção de outros jovens, o manguebeat começa a fazer parte da vida cultural da cidade, resistindo ao processo de exclusão social.